[Mac-BR] Não me deixa assim, Steve!
Marcos A C Ferrao
macferrao em terra.com.br
Sexta Agosto 20 06:04:10 PDT 2010
Compartilho com todos texto publicado na Folha de São Paulo de hoje.
Muito legal!
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BARBARA GANCIA
*Não me deixe assim, Steve!*
/Jobs acha nosso sistema tributário uma piada. E diz que outras empresas
high-tec pensam o mesmo/
EMBANANEI-ME TODA! Outro dia dei de cara com o Simão no restaurante e
notei que ele estava agarrado numa bichinha. Simão não é disso, pensei,
de ficar se atracando em público. O símio acabou confessando: "Não
consigo desgrudar do meu iPad, Barbara".
Achei aquilo muito esquisito. Tenho o tal do iPhone faz tempo e nem por
isso beijo ele de língua no bar do Rodeio. Também evito ficar me
esfregando com eletrônicos ou tirando lasquinha de eletrodomésticos, por
mais que valorize certos aspectos do design da linha branca lá de casa.
Mas existe um magnetismo fatal a respeito de iPod, iPad, iPid e iPud que
o valham que me fez pagar a língua meros cinco dias após o encontro com
o Monkey. Ganhei meu próprio iPad e enlouqueci.
O babado é forte. A maquininha está me consumindo a tal ponto que se
amanhã você ouvir contar que eu estou com anorexia e ando por aí
perdendo as calças, pode ter certeza de que não como porque não consigo
parar de bolinar o iPad. Divertimento melhor, que se pratique vestido,
não há. De roupa, nada se compara. O problema é ir à falência de tanto
comprar livro e aplicativo que não serve para nada.
Homem nenhum nunca me deu ordens (sejamos francos, poucos se
candidataram), mas Steve Jobs faria de mim mulher de malandro. Veja: ele
fabricou meu celular, meu "mp3" portátil, o computador que uso para
lazer e agora o "tablet". Além disso, foi da genialidade dele que
surgiram alguns de meus filmes preferidos, "Toy Story" e "Ratatouille".
Jobs também é o idealizador do iTunes, que, por sua vez, controla meu
cérebro e as duas ervilhas que guardo lá dentro. Diria que o cara é o
Henry Ford do nosso tempo. E olha que Ford não é um qualquer.
Revolucionou nossas vidas não só inventando o demônio que cospe CO2, mas
a linha de montagem, a produção em massa e a política de metas que
ajudaram a libertar o homem do trabalho braçal.
Minha operadora de cartão de crédito deve amar Steve Jobs. Agora que
ganhei um iPad, então, deve estar querendo ligar para agradecer a ele
por existir. Já imaginou que delícia processar débitos pingados de US$
0,99 não sei quantas vezes ao dia? É o que custa, em média, cada
aplicativo para o iPad.
Ocorre que o amor dos tapuias por Steve Jobs de nada vale. Nossa
fidelidade e o culto aos produtos da Apple (quantos carros ao dia você
vê na rua com o adesivo da maçazinha?) passam despercebidos. O cara quer
que a gente se estrepe.
Olhe à sua volta: onde está a loja Apple mais próxima? No hay. Dê uma
pesquisada na App Store do seu Apple: para o público brasuca só há
aplicativos de quinta categoria em português. Outro dia comparei a lista
de artigos disponíveis com alguém registrado no iTunes com um cartão de
crédito inglês e quase chorei de pena de mim mesma.
E isso acontece por quê? Porque Steve Jobs considera nosso sistema
tributário uma piada. E já avisou que outras empresas de alta tecnologia
pensam da mesma forma e ficarão longe do Brasil enquanto não formos mais
razoáveis.
Alô, Simão! Que tal emprestar nossos iPads para a Dilma e o Serra? Quem
sabe eles não veem algum potencial no Steve?
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